“Folha” e “Estadão” são velhos defensores da ordem. Em 64, defenderam
uma “ordem” curiosa: em nome da Democracia, era preciso atentar contra a
Democracia. A gloriosa imprensa nacional implorou pelo golpe. E foi
atendida. Nos anos seguintes, jornalistas foram presos, torturados. Na
época, a maioria dos jornalistas tinha noção exata de que o interesse do
patrão não era o interesse do jornalista. Os dois não se confundiam.
Os anos 90 transformaram os jornalistas em “novos-ricos”, apesar de
quase sempre mal pagos. O novo-riquismo se expressava em um jeito
“moderno” de se vestir, que eu vi de perto na Redação da Barão de
Limeira: chefes com calça pula brejo, gravatas coloridas, um jeito
espalhafatoso que alguns chamavam de “yuppie”. Muitos, mesmo sem ser
chefes, embarcaram no modismo. Vestiram roupa dos chefes, passaram a
pensar como os patrões. Jovens recem-saídos da faculdade chegavam às
redações achando que eram sócios da “liberdade de imprensa” dos patrões.
Muitos jornalistas defendem as idéias do patrão porque se confundem
com o jornal ou a revista (ou a TV, ou a rádio, ou o Portal da internet)
em que trabalham. Claro que há exceções, há lucidez aqui e ali. E há
aqueles que, simplesmente, lutam para sobreviver em redações cada vez
mais insanas.
“Folha” e “Estadão”, nas últimas semanas, forneceram um ensinamento
importante. A opinião do dono do jornal não se confunde com o interesse
do jornalista. Representantes do pensamento (?!) oligárquico, os dois
ex-jornalões paulistanos passaram os últimos dias a implorar ao
governador bandeirante: “bote ordem no coreto”, “prenda e arrebente”.
Alckmin gostou das sugestões. Seguiu a recomendação dos ex-jornalões.
E os jornalistas sentiram na pele, nos olhos e – espero – no coração
que o interesse do patrão não se confunde com o interesse de quem
escreve, apura, reporta. O pau comeu na Paulista. Jornalistas conheceram
o tratamento de choque que tantos, na classe média, preconizam como
solução contra a violência.
Ah, mas que coisa antiga chamar o
empregador de “patrão”. Somos todos “colaboradores”, certo? Hum,
pergunte aos jornalistas que levaram bala no olho, aos jornalistas que
sentiram o gás invadir olhos e pulmões, o que eles acham da opinião de
seus doutos chefes e diretores!
“Folha” e “Estadão” são sócios desse Pinheirinho da Paulista,
promovido pelo governador bandeirante para reprimir quem protestava
contra os aumentos nas tarifas de ônibus. A ordem está mantida. Parabéns
à “Folha” e ao “Estadão”. A liberdade de imprensa venceu!
Lino Bocchini, em seu blog na CartaCapital, foi quem lembrou dos textos publicos pelos dois ex-jornalões:
“Chegou a hora do basta”, O Estado de S. Paulo:
“A PM agiu com moderação, ao contrário do que disseram os
manifestantes, que a acusaram de truculência para justificar os seus
atos de vandalismo (…) A atitude excessivamente moderada do governador
já cansava a população. Não importa se ele estava convencido de que a
moderação era a atitude mais adequada, ou se, por cálculo político,
evitou parecer truculento. O fato é que a população quer o fim da
baderna – e isso depende do rigor das autoridades (…) De Paris, onde se
encontra para defender a candidatura de São Paulo à sede da Exposição
Universal de 2020, o governador disse que “é intolerável a ação de
baderneiros e vândalos. Isso extrapola o direito de expressão. É
absoluta violência, inaceitável”. Espera-se que ele passe dessas
palavras aos atos e determine que a PM aja com o máximo rigor para
conter a fúria dos manifestantes, antes que ela tome conta da cidade.”
Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/folha-e-estadao-pediram-ordem-alckmin-atendeu.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário