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24 janeiro, 2008

Sobre um brilhante expelidor de regras – e sobre vocês

Este artigo recebi pelo Crreio Caros Amigos
(http://carosamigos.terra.com.br/)

Muito bom.


por Roberto Manera

José Antônio Dias Lopes, que é uma pessoa que eu amo porque é um grande jornalista
e inventou o conhaque clandestino Elliot Ness, havia nos dito: “Descobri
em Veneza o maior escritor brasileiro”, e nós lhe perguntamos: “o que ele
já escreveu?” E ele nos respondeu: “ainda nada“.

Foi daí que a Veja e depois a Globo descobriram esse luminar – Diogo Mainardi
– e fizeram dele esse cagador de regras que o Brasil inteiro ouve, e às vezes
tristemente aplaude, todo santo dia.

Olha só o que o cara falou, no mesmo dia em que sua própria tevê exibia um
programa sobre como o futebol havia sido importante para a identidade de
um país da África: ele fez um trejeito veado com as sobrancelhas e disse
ao Lucas Mendes, com a non chalance dos que só pensam no que querem ser e
não no que são: “Futebol é irrelevante”.

Palmas! Palmas de vocês, que também acham que futebol é irrelevante, que
ganhar é sempre bom, até roubando; que acham que melhor é bombardear o Iraque,
e que toda a estrada, para vocês e o repulsivo ser que todo dia lhes fala,
vai dar no mar. Vocês merecem!

Merecem o Diogo Mainardi; o Fernando Henrique, que lhes roubou o pouco que
tinham, ao vender por preços ínfimos empresas que eram de todo o País; os
algozes meigos que lhes dizem, todo dia, nessa merda que vocês enganadamente
chamam “mídia”, que o Chávez – o da Venezuela –, que felizmente decidiu eliminar
o golpismo fechando aquela latrina espúria que defendia o golpe contra o
povo, é um “caudilho”. Eu posso lhes dizer, como repórter: conheci a Venezuela
nos anos 1960, quando todo aquele país não passava de um terreiro das petrolíferas
americanas. Era o inferno. Acreditem se quiserem. Ou prefiram a Seleções
do Reader’s Digest. Vocês já notaram que são livres? Pois é: exercitem essa
liberdade.

Para quem escolher o american way de exercitar a liberdade, eu digo: vão
se foder. E – vou lhes dizer – vocês vão mesmo. Porque o pensamento – sabiam?
– ainda existe. O povo é superior a toda essa merda que vocês aprenderam
nessa sua pérfida “escola de vida” dos homenzinhos de pau pequeno dos anos
cinqüenta, que saíram pelo mundo tentando afirmar sua masculinidade – e que
eu acho que forneceram o modelo que o Mainardi escolheu para sua vida brilhante
e inútil.

Mas isso é o que é irrelevante – é pouco. O que é relevante e existe, de
verdade, são o pensamento e o anseio dos povos. E nós somos muitos, percebem?
Muitos. Nós somos os Garabombos de Manuel Scorza; os Macaulés de Alejo Carpentier
e os Bolívares de Chávez. Vão ler e entenderão.
E muitos de nós – invencíveis, porque não temos essas medidas que a Globo,
a Veja e os jornais lhes (nos) impõem – somos quem haverá de fazer o amanhã.
Alinhem-se enquanto há tempo.


Roberto Manera é jornalista.

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